Winih é o pássaro mítico que atrai crianças pequenas com sua flauta mágica e as leva para o céu. “Winih canta muito, como os espíritos do céu, gosta dos meninos” (Mindlin, Vozes: 61). Os pais tentam segurar as crianças, mas não conseguem porque Winih sai voando, girando, subindo para o céu. Para evitar que isso aconteça, é preciso dar mamê, panquecas de milho, para Winih deixar as crianças em paz. A Cantiga de Winih é assim:
Após conhecer a história de Winih, sugerimos que realize um trabalho de apreciação musical com a cantiga. Sugerimos algumas etapas.
Depois de ouvirem a história, as crianças poderiam desenhar as cenas que mais as impressionaram e compartilhar entre elas, comparando as diferentes impressões. Recontar a história coletivamente também pode ser um exercício muito envolvente. A turma pode escolher em conjunto os momentos mais interessantes para sonorizá-los. A partir daí, o grupo pode se lançar em uma pesquisa sonora vocal e corporal e também com objetos e instrumentos musicais na busca de efeitos sonoros para as passagens selecionadas.
Pode ser interessante realizar um trabalho de escuta, como o que sugerimos a seguir, e até incluir o áudio na contação da história sonorizada!
Sempre é bom ouvir uma primeira vez sem preocupações de identificações de elementos musicais. Simplesmente, ouvir e deixar se envolver pela escuta. Após essa audição, vocês podem trocar impressões e sensações…
Em um segundo momento, seria interessante escutar novamente, mas agora com o desafio de observar esses dois elementos musicais: as únicas duas notas, com um intervalo de semitom entre elas, que a melodia é construída e o movimento ascendente (indo para o agudo) no final da frase, o que é muito comum na maioria das músicas dos Paiter Surui.
Outros aspectos que podem ser destacados na audição é o timbre, a nasalidade, enfim, a sonoridade da língua. É interessante tentar cantar se aproximando ao máximo da forma de cantar do Joaquim G̃asalahp Surui.
Uma outra atividade de apreciação musical pode ser realizada com a música Guaporé interpretada pelo grupo Mawaca. Nessa música, há uma citação da cantiga de Winih. Após esta escuta, algumas perguntas podem estimular uma escuta atenta, como: “Como é feita essa citação?”; “Em que momento?”; “Como elas cantam?”. Uma escuta apurada e comparativa das duas gravações pode se tornar um ótimo exercício de percepção auditiva.
Foto: Flavio Florido
Mawaca – show Rupestres Sonoros
Saiba Mais
Os Paiter Surui vivem em Rondônia, na terra indígena Sete de Setembro e se dividem em 27 aldeias. Eles falam a língua Paiter da família linguística Tupi-Mondé e dividem-se em quatro clãs: G̃amep (marimbondos pretos), G̃abg̃ir (Marimbondos Amarelos), Makor (Taboca) e Kaban (Marindiba).
Eles são conhecidos como um povo cantor que também gosta muito de contar histórias. É comum ouvir narrativas entremeadas de canções que costuram a trama, mesclando fala e canto. Mais informações sobre esse povo no livro cantos da Floresta e no site do ISA https://pib.socioambiental.org/pt/povo/surui-paiter
PARA LER
A história completa de Winih encontra-se no livro Vozes da origem, estórias sem escrita: narrativas dos índios Suruí de Rondônia, da antropóloga Betty Mindlin. A obra reúne mitos dos Paiter Surui e aspectos da vida social desse grupo. São Paulo: Ática/Iamá, 1996