Mamo oimẽ é uma música criada, recentemente, pelos Guarani Kaiowá da Comunidade de Itay, perto de Dourados em Mato Grosso do Sul. A letra da música se refere ao tekoha, lugar de forte simbologia, em conexão com os elementos da natureza e seus ancestrais. Ao contrário dos Guarani Mbya, que preferem uma mobilidade geográfica – os Guarani Kaiowá querem ficar próximos às áreas habitadas por seus familiares e ancestrais. Entre os anos de 1950 e 1990, praticamente todo o estado do Mato Grosso do Sul foi desmatado, trazendo impactos muito fortes aos Kaiowá. Existe a premente necessidade de recuperar suas antigas aldeias. Nesse processo de desalojamento, centenas de famílias kaiowá passaram a acampar perto das fazendas, que em tempos antigos, foram seus tekoha. Sem o tekoha, os Kaiowa vivem miseravelmente.
Por ser de fácil aprendizado você poderá interpretá-la tanto da forma mais tradicional – como está na gravação – como fazer o arranjo que propomos com um ostinato vocal além de outras vozes. O arranjo sugere o maracá no contratempo que fornece um outro suingue para a música.
Ouvindo e cantando
- Para aprender a cantar essa música dos Guarani Kaiowá, sugerimos ouvir várias vezes a gravação, cantando junto para perceber as nuances da língua.
- É importante prestar atenção no fonema ‘y’, que é uma mistura de ‘i’ com ‘u’ e configura um som muito característico desse grupo. Como não temos este fonema na língua portuguesa, a escuta atenta é sempre a melhor forma de se aproximar da pronúncia dos Guarani Kaiowá.
Abaixo, apresentamos a transcrição, no tom da gravação, e também uma adaptação para um tom mais agudo, caso seja melhor para sua turma cantar ou tocar.
Partitura original
Proposta de arranjo para Mamo oimẽ nde rory
- Depois que seus alunos se apropriarem da pronúncia de Mamo oimẽ nde rory, sugerimos que vocês cantem o arranjo, acompanhando de maracás.
- Ele pode ser interpretado por vozes mistas ou não. A proposta do arranjo é ter um ostinato vocal (de preferência masculino) com a palavra tekoha com o maracá acompanhando no contratempo
- Propomos que as vozes mais agudas (um grupo menor) façam a introdução com as notas longas e, depois, quando o ritmo estiver seguro, as vozes femininas começam a cantar a melodia (que pode estar sobreposta à linha da introdução ou não). No entanto, o arranjo pode ser montado de outra forma, como o regente achar mais adequado para seu grupo.
Foto: Rogério Ferrari
Líder Kaiowa em acampamento
PARA Ver
Para contextualizar a questão política dos Guarani Kaiowa sugerimos assistir ao filme MARTÍRIO que mostra a grande marcha de retomada dos territórios sagrados Guarani Kaiowá registrada pelas lentes do cineasta Vincent Carelli. Esse documentário mostra o nascedouro do movimento Kaiowa na década de 1980 e sua situação, vinte anos depois, com base em relatos de sucessivos massacres. Carelli busca as origens deste genocídio, um conflito de forças desproporcionais, revelando a insurgência, pacífica e obstinada dos fragilizados Guarani Kaiowá, frente ao poderoso aparato do agronegócio.
Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=5zVzRAiDR7.
PARA VER
EXISTÊNCIAS RESISTÊNCIAS. Rogério Ferrari fotografou diversos momentos nos acampamentos Kaiowa no Mato Grosso do Sul em 2016. Essas imagens podem ser vistas em: FOTOGRAFIAS — Território Guarani Kaiowá, setembro de 2015
Saiba mais
Os Guarani possuem uma das maiores populações indígenas da América do Sul. Eles se dividem em três subgrupos: Mbya (Mbuá, Mbwá, Mbiá), Kaiowá e Ñandeva, também conhecidos como Xiripá. Mais informações sobre os Guarani encontram-se no livro Cantos da Floresta e no site do ISA