Coruja da noite (Rio Negro)
Cantiga arapaso da Comunidade Taracuá cantada em nheengatu
Intérprete: Busá Pakó (Ana Gonçalves)
Tema recorrente no universo das cantigas de ninar, a coruja murucututu, também conhecida como corujão, é figura simbólica relacionada à cosmogonia dos povos da Amazônia. Carregada de ambiguidade, a coruja aparece tanto como a mãe do sono quanto como ave agourenta que amedronta crianças. Na gravação da Busã Pakó, é interessante observar, em alguns momentos, o fonema brrrr imitando o chirrio da coruja e a forte nasalidade e exploração da vogal u com tutu, e palavras onomatopaicas que dão ritmo à melodia. Na letra, além da coruja, o gavião (kareka ray) e o esquilo (akutypurú), também conhecido como cotia, ambos ligados ao sono. Essa música espalhou-se pelo Brasil ao longo dos séculos ganhando variações de melodia e letra e, a partir da década de 1960, ganhou várias gravações. Há vogais nessa canção, como o “y”, que é uma mistura de “i” com “e”, que não existem na língua portuguesa. Por isso, é importante ouvir várias vezes para se aproximar da sonoridade correta da língua.
Transcrição musical de Berenice de Almeida e Magda Pucci.