A música tocada com os sopros japurutu apresenta uma melodia construída a partir de uma escala não temperada, provocando uma sensação hipnótica. Como a Cariço, também do Rio Negro, ela é tocada no sistema alternado e soa tão fluente que parece ser tocada por um único instrumentista. Esses e outros aspectos da música Japurutu podem disparar um trabalho de escuta com seus alunos, bastante interessante. Ver atividade Ouvindo a Cariço. Sugerimos observar:
- Observar o timbre da japurutu, imaginando como o som é produzido, se é flauta de pã, ou transversal ou vertical, se tem palheta, de que material é feito etc. Após esse exercício de imaginação, veja as imagens no livro da japurutu e compare com o que vocês imaginaram.
- Você pode criar dinâmicas de observação visual do instrumento, percebendo o formato, o tamanho, o material que é confeccionado, a forma como o som é produzido, com a observação direta do instrumento (se disponível) ou através de ilustrações.
- Que notas eles tocam? Após ouvir atentamente e cantar junto com a gravação, tente desenhar o contorno melódico da música do Japurutu. Você vai perceber a dificuldade de localizar as alturas exatas pois, ao tentar tocar essa melodia em um instrumento temperado, algumas notas não se “encaixam” porque há quartos de tom nessa música, isto é, notas intermediárias entre os semitons. Esses quartos de tom são responsáveis pela sensação hipnótica dessa melodia que se encontra na escala árabe ou espanhola maior, mas com a oitava nota meio tom abaixo.
- O contato com essas melodias não temperadas pode ser uma ótima oportunidade para o desenvolvimento de um trabalho de percepção com seus alunos, assim como, também, uma possibilidade de aprofundar esses conceitos musicais: intervalos, escalas, temperamento, entre outros.
A dança e o sopro – ouvindo e vendo
Após ouvir a gravação e assistir ao vídeo, é possível ampliar o trabalho de observação, percebendo a marcação dos chocalhos de pé e a relação com os movimentos da dança.
Os Bayaroá tocam e dançam de braços dados, com chocalhos nos pés. É interessante observar que os apoios marcados no chão seguem totalmente os movimentos da dança. Quando eles vão para trás, há uma ausência de apoio, e quando vão para frente, o apoio se mantém mais forte.
A resultante sonora dos chocalhos de pés do Bayaroá é diferente da marcação dos maracás dos Mbyá-Guarani ou dos Xavante, por exemplo, que marcam constantemente o pulso de forma bastante regular. Observe também que eles fazem uma espécie de introdução com glissandos, cujo recurso se repete no final da música.
Aproveite para conversar sobre a classificação dos instrumentos de sopros, explique um pouco como funciona nas sociedades indígenas e aborde seu simbolismo.
Mais informações sobre os sopros indígenas você pode encontrar no capítulo Músicas Indígenas do livro Cantos da Floresta
SOBRE A JAPURUTU
A japurutu é um flauta usada pelos povos do Rio Negro nas festas de Dabucuri. É uma flauta sem furos e seus sons são produzidos a partir de harmônicos. Sem orifícios, a afinação é feita por meio de uma palheta de folha de palmeira amarrada e a produção dos sons é feita a com os sons harmônicos. Cada instrumento utiliza uma gama de 5 notas.